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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mega Fundo Imobiliário

Muito se tem falado ultimamente do elevado número de casas que são entregues aos bancos todos os dias. Aqui há dias, um jornal noticiava que a Banca tinha € 3,5 mil milhões em casas para vender. Depois fala-se muito do crédito mal-parado e das inúmeras famílias que estão a passar dificuldades e não conseguem pagar os seus empréstimos.

Vivemos com certeza um momento em que muitos passam dificuldades. Vivemos com certeza um momento em que muitas famílias entram em default, deixando de pagar os seus empréstimos e perdendo os seus bens, nomeadamente as suas casas.

Há que tomar medidas, creio. É nestes momentos que devemos ser enérgicos, tomar medidas enérgicas! A medida fundamental que julgo que deveria ser tomada pelo Governo deveria passar pela constituição de um mega Fundo Imobiliário. Como? Porquê?

A preocupação fundamental de qualquer Governo deverá ser sempre para com as pessoas em dificuldades. Se não se governa para as pessoas, então governa-se para quem? Em Portugal, se temos muitas pessoas com dificuldades em pagar o seu crédito habitação, pois então devemos pensar em políticas que as ajudem. O importante é que estas pessoas não fiquem sem casa e os Bancos não fiquem com um crédito mal-parado ou um activo que não querem ter. Vejam bem, a entrega da casa ao Banco é, maioria das vezes, mau para ambas as partes. É mau para o Banco porque não quer ter casas em carteira; é mau para o mutuário porque não quer perder a sua casa nem deixar de viver nela.

Em Portugal, no final de 2011, tínhamos pouco mais de € 2 mil milhões em crédito habitação mal-parado. Pode parecer muito, é com certeza. Aliás, basta haver uma pessoa em dificuldades que já deve ser uma preocupação de todos, disso não haja a menor dúvida! Mas temos de relativizar um pouco os números. Este valor de crédito mal-parado representa apenas 1,9% do total concedido em Portugal. Comparativamente com outros países europeus, estamos bem atrás de Espanha, Itália ou Polónia, dando alguns exemplos. França, por exemplo, tinha em finais de 2010 uma percentagem de 1,28% de mal-parado. Portanto, parece-me que os nossos números não são astronómicos, bem pelo contrário.

A Troika tem € 12 mil milhões destinados a recapitalizar a Banca em Portugal. O montante em crédito habitação mal-parado representa "apenas" 1/6 desse valor. E muito provavelmente, nem todas estas pessoas necessitarão de ajuda imediata. Em vez do Estado usar esse dinheiro para entrar no capital da Banca ou emprestá-lo através de coco's, porque não usar parte desse dinheiro para adquirir estas hipotecas? O Estado poderia ficar dono destas hipotecas e renegociá-las com os mutuários de forma a que estes tivessem condições de as pagar e não perdessem as suas casas. Esta deve ser a preocupação fundamental do Governo e não tanto o injectar dinheiro na Banca.

Desta forma, o Governo conseguiria "controlar" ou prevenir 3 aspectos fundamentais que assolam o mercado imobiliário hoje em dia:

1) O default de famílias, com consequente perda de casa;
2) O aumento do mal-parado nos Bancos, e estes ficarem com casas que não querem e terão de vender, muitas vezes a desconto, para terem a necessária liquidez;
3) A descida dos preços na habitação. Uma das causas da descida que temos verificado nos últimos anos deve-se, também, a este mercado. Os Bancos normalmente levam as casas que recebem a leilão, onde muitas vezes o preço arrematado é inferior ao "valor de mercado". Não havendo necessidade de vender rapidamente as casas, controla-se mais a descida dos preços.

Depois de reestruturada toda esta dívida, quem sabe daqui a uns anos, este Fundo não terá um valor de mercado interessante e seja apelativo a investidores institucionais? Nessa altura, esperamos nós, o nosso mercado e a nossa economia estarão a crescer (bastante!), as famílias terão maior poder de compra, os investimentos sejam mais apelativos. Este será, com certeza, um deles! Ganham hoje as famílias, no futuro ganhará Portugal!

Bons negócios (imobiliários)!

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Gonçalo

Gostei do artigo e solução apontada.

No entanto não concordo que esse fundo deva ser estatal, pois os exemplos que temos desse tipo de iniciativas são geralmente desastrosos, tanto a nível municipal como central.

O Estado é, e será sempre, um péssimo senhorio e a “malta” aproveita-se disso, deixa de pagar, deixa cair e ainda se queixa e exige… e depois há eleições…

Os “milhões da troika” são um empréstimo (com juros) e que interessa aplicar em algo que possa garantir retorno, e duvido que esse mega-fundo do estado tivesse alguma hipótese de ter a rentabilidade desejável.

Acho por isso mais aconselhável que seja a banca a criar esse mega-fundo comum. Poderia ser criada uma entidade independente que comprasse esses activos por valores justos, de acordo com a renda possível e aos imóveis em questão, de forma a, como sugeres, a que a média prazo seja atractivo a investidores institucionais.

De outra forma, penso que se iria apenas resolver o problema dos bancos e de algumas pessoas, mas criar um “fundo-buraco”, e foi assim que tudo começou…

Fernando Vasco Costa

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Fernando,

Concordo com a tua posição. Mas aquilo que me parece essencial nesta ideia é que o Estado garanta a hipoteca por forma a que possa impedir a entrega da casa ao Banco e consequente saída do mutuário. Isso parece-me fundamental. A forma como poderá ser feita é que devemos discutir e encontrar a forma mais eficiente.

O valor de entrada é, como dizes, fundamental mas deverá ser, no mínimo, o valor da dívida, parece-me. Se não for, não cumprimos o objectivo da recapitalização dos Bancos.

Claro está, a gestão poderá (e deverá) ser entregue a privados. Como dizes, e bem, o Estado nunca foi lá muito bom a gerir seja o que for...

Acho que deveriamos olhar para o que foi feito com a Fannie Mae e Freddie Mac, no caso dos USA. É um interessante case-study. Para mim, e já o disse, o mercado residencial norte-americano está nacionalizado com a intervenção levada a cabo desde 2008. Passados 4 anos, estas agências já não necessitam de mais dinheiro e preparam-se para começar a rentabilizar o investimento feito.

Anónimo disse...

Caro Gonçalo,
também me parece ser um case-study interessante e uma solução a seguir.

Sobre o objectivo de recapitalização da Banca talvez ache mais interessante a compra da dívida pública, como já foi proposto por alguns especialistas na matéria.

um abraço
Fernando

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Fernando,

Quando dizes que a compra de dívida pública pode recapitalizar os Bancos, queres dizer usar o dinheiro da Troika para recomprar toda a dívida pública que os Bancos têm em Balanço, é isso?

Concordo com essa medida, mas não dessa forma. Parece-me que deveria ser um objectivo europeu: dotar o BCE de meios para "secar" o mercado secundário, dar-lhe uma autêntica bazuca para terminar com a especulação em volta das OT's.

De qualquer forma, um programa de recompra de OT's à Banca capitalizaria-a mas não ajudaria em nada, directamente, as famílias com prestações em atraso. E essa é a minha preocupação principal!

FVC disse...

Caro Gonçalo,
concordo!
Realmente tem que se criar um regime excepcional para ajudar as famílias com prestações em atraso.
um abraço
FVC