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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Nómadas do Mundo: Como os Millennials estão a alterar a dinâmica das cidades.

O que é que Hackney (LDN), Queens (NY) e o Intendente (LX) têm em comum? Os três eram até recentemente bairros pobres, com muitos edifícios abandonados e com índices de criminalidade muito acima da média das suas cidades e agora são as novas moradas duma tribo que procura autenticidade e um sentimento de pertença a uma comunidade local.

Em cidades como Londres ou Nova Iorque esta gentrificação tem obviamente outra dimensão e velocidade que ainda não se vêem em Lisboa ou no Porto, mas em consequência do cosmopolitismo das nossas cidades, com a vinda de muitos estrangeiros (liderados pelos Franceses) que fazem das nossas cidades as suas novas moradas, tem-se visto bairros como a Graça e a Mouraria transformarem-se em zonas de residência destes nómadas que procuram experiências e lugares fora do comum. Esta falta de vergonha destes novos moradores para ocupar zonas da cidade renegadas pelos  Lisboetas, fez-nos olhar para estes bairros com um renovado olhar como se necessitássemos da sua validação para também nós aí procurarmos oportunidades de investimento ou uma nova morada para viver. 


O que procuram os Millennials?

Os millennials, geração descrita por Strauss & Howe como as pessoas nascidas entre 1980 e 1999, querem viver nos centros urbanos (ainda que cada vez mais prefiram centros urbanos de cidades mais pequenas e com melhor qualidade de vida como Lisboa e Porto), de preferência a uma curta distância a pé ou de bicicleta (muitos recusam-se a tirar a carta de condução!) do seu trabalho, e querem manter a flexibilidade de poder mudar de trabalho ou tirar um ano para viajar a qualquer momento. Querem ter o máximo de experiências antes de tomarem a decisão de assentar e construir uma família.

Alguns dos bairros das cidades que eram pobres e considerados “off-limits” passaram a ser os mais procurados por estes novos consumidores que não querem passar uma grande parte do seu dia a entrar e a sair da cidade e preferem usar esse tempo duma forma mais interessante tirando o máximo de partido dos seus dias. Não querem esperar pelo fim-de-semana para se divertirem e aproveitarem o seu tempo. E isso tem influência em como vivem e consomem a cidade. Querem viver em bairros com história onde se misturam com as gerações mais velhas que ali vivem há anos e fazem-nos sentir parte de algo mais importante, misturam-se com os turistas eruditas que aproveitam as novas formas de viajar como couch surfing, hostels, airbnb e guesthouses também eles à procura de se imiscuírem na cultura local. 

O carro, a TV e a casa grande nos subúrbios deixaram de ser os símbolos de sucesso. Para estes millennials, o conceito de luxo está intrinsecamente ligado à autenticidade das experiências que vivem e à liberdade para aproveitar as oportunidades que surgem.  

Quais as implicações para o urbanismo e o mercado imobiliário?

Esta geração é mais móvel. No passado, os nossos pais ambicionavam tirar um curso, encontrar um emprego estável (se possível para a vida!), casar e comprar uma casa. Isto teve obviamente as implicações que conhecemos nos casos do Porto ou Lisboa. Desertificação de ambos os centros históricos e milhares de metros quadrados de construção nova nas suas periferias. Pelo contrário, esta nova geração, que atrasa cada mais o seu processo de maturidade e consequentemente o casamento e a chegada dos filhos, tem necessidade de viver na malha urbana onde a movida social e criativa o estimula e o entretém. Têm um sentido de vida em comunidade e partilha seja por razões económicas seja por questões sócio-culturais.

Existe por isso um potencial para os promotores imobiliários desenvolverem produtos que se adaptem a esta tribo e às suas preferências e aproveitem oportunidades em zonas da cidade que outrora estavam fora dos radares dos investidores. Já vemos isso a acontecer em algumas cidades Europeias onde o problema de espaço é preponderante, como é o caso de Amesterdão, onde soluções de habitação criativas e mais económicas começam a surgir como é o caso do Zoku, uma reinvenção do aparthotel com soluções para estadias de curto, médio e longo prazo onde o foco vai muito para além duma cama confortável ou duma recepção. Para estes consumidores, não é só o produto ou o serviço que são importantes, mas também a sua história e singularidade. 

Face a este contexto a zona oriental de Lisboa parece reunir os atributos necessários, para dar continuidade à requalificação e reconversão urbanística cujo centro histórico de Lisboa foi alvo, e que por via da escassez de produto e aumento do preço, obrigam-nos a encontrar novos caminhos para alimentar este segmento.   

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Por Bernardo D'Eça Leal
Managing Partner
The Independente Collective
www.thecollective.pt

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