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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Luanda não é Angola

A necessidade aguça o engenho. Ao longo deste último ano e meio os empresários do imobiliário, promotores, têm buscado formas de continuar a produzir e escoar os seus produtos num momento em que o mercado perdeu a força que teve após a crise mundial de 2007/2008.

O mercado actual demora mais tempo a absorver a produção, veja-se que as "vacancy rates" têm vindo a prolongar a sua tendência de subida, tanto na cidade como em Talatona, o que dificulta não só a execução dos projectos como limita o seu retorno. Ou seja, o risco da promoção imobiliária tem vindo a aumentar mas os promotores não podem repercutir o seu prémio de risco nos seus produtos sob pena de perderem competitividade num mercado cuja oferta aumenta por força da sua fraca absorção.

Esta situação levou a que vários promotores e entidades ligadas ao sector procurassem soluções de produção mitigando ao máximo o risco nos seus projectos. A primeira solução que tive conhecimento foi a Cooperativa Essandju que promoveu um lote com três edifícios sob forma de cooperativa. Qual a vantagem encontrada nesta solução? A primeira e a que mais rapidamente sobressai é o facto de uma cooperativa não ter, ao contrário da visão empresarial, uma visão de lucro. Os cooperantes não esperam a remuneração do seu risco e do seu investimento enquanto tal. O segundo é que permite desenvolver o projecto sem financiamento junto da banca, o que com as actuais taxas de juro, permite poupanças consideráveis. Por outro lado a gestão de todo o projecto é feita por uma única entidade profissional e que acompanha todo o processo. A participação de cada cooperante é proporcional à sua fracção e ao longo da obra os desembolsos são também desta forma distribuídos.

Esta solução permitiu a um conjunto de particulares terem um apartamento em Luanda com um custo bastante abaixo dos que são normalmente praticados no mercado, embora não possam transaccionar as suas fracções por um período de cinco anos podendo no entanto arrendar as mesmas.

Depois desta cooperativa já tive conhecimento de mais duas que estão em fase de projecto para lançarem os seus empreendimentos.

Esta solução encontrada é muito interessante pois permite desenvolver projectos para diferentes gamas de classe de produto e é uma forma do mercado continuar a oferecer produtos de qualidade para regenerar o parque residencial em Luanda, mas não só. Esta ideia pode ser replicada em qualquer ponto do país e desta forma ajudar à fixação de populações nas suas províncias de origem e aí criar um desenvolvimento integrado pois aumenta a construção local e todas as suas industrias complementares.

Este é um papel que tem cabido ao Estado, criando Novas Centralidades junto aos centros urbanos do país e através da execução do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação (o qual inclui iniciativas como o programa de auto-construção dirigida e o programa 200 moradias por município, por exemplo). Mas a iniciativa privada deve complementar este Programa e esta é uma hipótese a ter em conta para não se estar sempre à espera que os outros façam por nós.

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Por Francisco Barros
Director Geral Proprime

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