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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Grandes bancos têm de vender 5.200 milhões de euros em imóveis

Por Gonçalo Nascimento Rodrigues
Out of the Box
Main Thinker

OTBX, Consultoria em Finanças Imobiliárias, Lda.
Managing Director






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É hoje notícia do Jornal de Negócios que os 5 maiores Bancos Portugueses têm 5,2 MM de euros em imóveis para vender. Mais, por lei têm 2 anos para o fazer. Significa isto que a Banca teria de ter vendido qualquer coisa como € 3,5 MM entre 2011 e final deste ano; até final de 2014, teria de vender € 1,35 MM.

Vai disto, a Troika pretende que a Banca registe devidamente as respectivas imparidades, dado ser expectável uma forte pressão vendedora com consequente descida dos preços de mercado. Só até final de Junho, a Banca já tinha provisionado cerca de 1.000 milhões de euros.

Mas o que significam estes números? Que dimensão têm na realidade no nosso mercado? Vamos procurar contextualizar:
  1. Segundo o INE, no ano de 2011 foram realizados 86.869 contratos de compra e venda de prédios urbanos em propriedade horizontal, no montante total de € 9,3 MM euros. Temos, assim, um valor médio na ordem dos € 107.000 por prédio urbano.
  2. De acordo com IRN, tinham sido registados 25,5 mil procedimentos no serviço Casa Pronta, no 1º semestre deste ano.
  3. Segundo a Remax, até Agosto do presente ano, a empresa transaccionou imóveis (fundamentalmente, fracções residenciais) no valor aproximado de € 600 Milhões, representando um acréscimo de 30% face a 2011. Estimativas de mercado, apontam para uma quota da Remax entre os 25% - 30%. Deste volume de negócios, grande parte é já proveniente da actividade de arrendamento, cerca de metade. Dos restantes 50%, talvez 10% sejam vendas provenientes dos chamados "imóveis da Banca".
  4. Assumindo um valor médio de € 75.000 por transacção, e com base nos números acima referidos, seria pois aceitável considerar que durante o ano de 2013, serão realizadas entre 20.000 a 25.000 vendas de imóveis, assistidas pelas 3 maiores mediadoras, num montante entre € 1,5 e € 1,8 MM.
  5. Significa isto que as 3 maiores mediadores do mercado representam cerca de 50% das transacções totais.
  6. Já segundo a APEMIP, as 3 maiores imobiliárias de Portugal - Remax, ERA e Century 21 - estavam a vender cerca de 20 imóveis da Banca, por dia. 

Olhando para os números acima, e procurando extrapolar, poderemos referir o seguinte:

  • A Banca terá qualquer coisa como 49 mil imóveis para vender até 2015. Nem todos serão residenciais, com certeza, mas acredito que a maior parte o seja;
  • Só a Remax, deverá vender uns 6.000 imóveis este ano. Talvez uns 250-300 sejam provenientes da Banca. Parece bater certo. Se as 3 maiores vendem 20 por dia, 600 por ano, caber 250 (41%) à Remax, a líder de mercado, parece-me relativamente equilibrado.
O mercado absorverá, actualmente, cerca de 50.000 transacções de imóveis residenciais, um valor que deverá oscilar entre os € 3 e € 4 MM.

Já estamos contextualizados? Boa! Na prática, aquilo que temos é que a Banca deveria, no espaço de 4 anos - entre 2011 e 2015 - deter uma quota de 25%-30% no mercado da venda de imóveis, do lado vendedor, claro está. Parece-me gigantesco, para além de perigoso. O perigo advém, fundamentalmente, da concentração de imóveis junto de um único player de mercado, que ainda por cima tem interesses comerciais no financiamento do próprio mercado.

Para mim, e já há muito que o digo, não será com soluções tradicionais que a Banca resolverá esta questão. Também não acredito em soluções milagrosas. Mas continua a parecer-me que adoptar uma solução estilo Bad Bank, ou optar pela constituição de um qualquer veículo de investimento, off balance sheet, gerido por uma entidade terceira, idónea e independente, sem conflitos de interesse, numa actuação concertada de todos estes Bancos, seria mais proveitoso para o mercado:

  • Tornaria a valorização destes activos mais clara;
  • Providenciar-se-ia uma estratégia de conjunto para o mercado nacional;
  • Aumentar-se-ia a liquidez;
  • Potenciar-se-ia o mercado de arrendamento e reabilitação;
  • Tornaria mais possível e mais real a entrada de investidores institucionais, nacionais e estrangeiros.

Bons negócios (imobiliários)!

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Nota: Procurei extrapolar alguns números com base nos dados que tinha disponíveis. Caso alguém tenha outros valores mais correctos, é convidado a participar, comentando este artigo e procurarei ir rectificando os números.


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